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A Revolução dos Bichos - George Orwell

Foto: Vuou
Autor: George Orwell
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2007
Páginas: 152

Verdadeiro clássico moderno, concebido por um dos mais influentes escritores do século 20, "A Revolução dos Bichos" é uma fábula sobre o poder. Narra a insurreição dos animais de uma granja contra seus donos. Progressivamente, porém, a revolução degenera numa tirania ainda mais opressiva que a dos humanos. Escrita em plena Segunda Guerra Mundial e publicada em 1945 depois de ter sido rejeitada por várias editoras, essa pequena narrativa causou desconforto ao satirizar ferozmente a ditadura stalinista numa época em que os soviéticos ainda eram aliados do Ocidente na luta contra o eixo nazifascista. De fato, são claras as referências: o despótico Napoleão seria Stálin, o banido Bola-de-Neve seria Trotsky, e os eventos políticos - expurgos, instituição de um estado policial, deturpação tendenciosa da História - mimetizam os que estavam em curso na União Soviética. Com o acirramento da Guerra Fria, as mesmas razões que causaram constrangimento na época de sua publicação levaram A Revolução Dos Bichos a ser amplamente usada pelo Ocidente nas décadas seguintes como arma ideológica contra o comunismo. O próprio Orwell, adepto do socialismo e inimigo de qualquer forma de manipulação política, sentiu-se incomodado com a utilização de sua fábula como panfleto.

Nesse meu primeiro contato com o autor, em uma fábula - história fictícia que tem como objetivo nos ensinar algo - tive uma experiência ótima, que só não foi mais surpreendente pois já havia assistido ao filme. Mas isso não me impediu de notar nos pequenos detalhes, o quanto Orwell foi inteligente em sua obra.

A narrativa se inicia quando começa a espalhar-se o burburinho de que velho Major, o porco mais experiente e respeitado da Granja do Solar, havia tido um sonho estranho e queria contá-los numa reunião, após Jones, dono da granja, ter se embriagado e ido dormir. Assim se fez e, no horário combinado, todos os bichos estavam no celeiro dispostos a ouvir. O velho Major anuncia saber que sua morte está próxima, pois este já viveu demais. Relata-os sobre a vida miserável que todos os bichos levam, principalmente da falta de alimento, já que Jones, embriagado, muitas vezes esquece de alimentá-los e os maltrata. Logo ele chega à conclusão de que toda a culpa de suas frustrações é dos humanos, que consomem sem produzir, se apoderam de seus leites, ovos, os obrigam a puxar o arado, e ainda assim é o senhor de todos os animais. A solução para isso era a revolução, expulsar Jones e sua esposa e espalhar as boas novas à todos os animais da região, assim, os bichos administrariam a granja. Mas todo aquele burburinho acaba acordando Jones, que dispara tiros com sua espingarda e cala toda a reunião. 

Três noites após, falece o velho Major. Contudo, a perspectiva de uma vida inteiramente nova não impediu que as atividades e reuniões cessassem. Começa o mês de março, e nos três meses seguintes as atividades secretas dos bichos continuam. A tarefa de instruir e organizar os bichos caiu naturalmente sobre os porcos, conhecidos como os mais inteligentes dos bichos. Mas entre eles se destacavam dois porcos: Bola-de-Neve e Napoleão, criados para serem vendidos. Napoleão era ameaçador, roliço e aparentemente com grande força de vontade. Bola-de-Neve era mais ativo, falante, com grande imaginação, porém com menos reputação pelo caráter. Garganta, persuasivo e amigo de Napoleão, era conhecido pela sua facilidade de convencer a todos até de que preto era branco. 

Os três organizaram os ensinamentos do Major em um princípio denominado Animalismo. logo também foram criados os Sete Mandamentos, que eram: qualquer um que ande sobre duas pernas é inimigo; aquele que andar sobre quatro pernas ou tiver asas, é amigo; nenhum animal usará roupa; nenhum animal dormirá em camas; nem beberá álcool; nem matará outro animal; todos os animais são iguais. No entanto, a revolução, aquilo que deveria ser o motivo da independência dos bichos, acabou por gerar grandes conflitos entre eles.

"O que distingue o homem é a mão, o instrumento com que ele perpetra toda a sua maldade."

Com o avanço da narrativa, a doutrina inicial se altera, os animais adquirem personalidades próprias, os clamores por igualdade social e justiça são colocados de lado, reprimidos e se transformam em benefícios para aqueles que juravam buscar o bem comum. A granja é tomada por represálias, atitudes cruéis e autoritarismo, trazendo à tona a famigerada reflexão de que qualquer um que tenha o poder em mãos pode facilmente ser corrompido.

O livro trata-se de uma reflexão sobre a URSS no comando de Stalin, que usava de assassinatos, sofrimento, falso moralismo, manipulações e repressão contra a oposição. Também se trata de uma sátira, narra a corrupção, as fraquezas humanas e traições, mostrando-nos as consequências do poder ilimitado. O ambiente final da história pode facilmente ser confundido, mas o autor desejava claramente transmitir a mensagem de que quem renuncia a liberdade em troca de promessas de segurança, pode acabar sem uma nem outra. Mas, para mim, o que tornou a narrativa ainda mais fantástica foi adicionar aos animais características humanas como crueldade, ingenuidade, autoritarismo, bondade, respeito, egoísmo, inveja, idealismo, etc.

"As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já era impossível distinguir quem era homem, quem era porco."

SPOILER ALERT: O velho Major pode ser comparado à Lênin e Marx, idealizadores do comunismo. Bola-de-Neve, inteligente e cheio de ideias, seria Leon Trotski, um dos líderes que tentava cumprir à risca os ensinamentos de Marx. Napoleão, o ditador sanguinário e cruel, seria comparado a Stálin. Garganta pode ser comparado aos políticos, que usam de todos os seus recursos para persuadir os animais, que trabalham até esgotar suas forças, o que representaria o proletariado russo.

3 comentários:


  1. Quero muito ler esse livro, já li coisas muito boas sobre ele :)
    Já li 1984 e é muito, muito bom.
    Adorei sua resenha, só me fez querer ler o livro ainda mais.

    ótima terça
    bjo

    Tati C.

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  2. Esse livro tá na minha lista de quero ler ha tempos!!! Alguém me mata? Ahaha quero muito! Beijo

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  3. Oláá!!
    Vi o link do seu blog lá no grupo do facebook e vim visitar!!
    Nossa, sabe que eu tinha a maior curiosidade por esse livro há muito tempo, mas sequer sabia do que se tratava? Agora pronto, gostei!! hehe
    Também li algumas outras postagens dessa página para conhecer melhor o blog e você me deixou cheia de vontade de ler o livro do Raphael Montes! Já vejo esse nome pipocar por aí faz tempo, mas queria algo por onde começar e está aí: O Vilarejo! Obrigada pela resenha, estou gostando muito da maneira como faz!
    Estou voltando com o meu blog esses dias e quero trazer mais uma linha literária também, falar um pouco de viagens e até uns textos, porque sou escritora e estou buscando meu lugar hehe
    Um beijo!

    http://lecaferouge.blogspot.com.br/

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